olho-te e sinto fome, som grave que ecoa pelas entranhas e seca a garganta, que atordoa o caminhar na rua ao pendurar sua imagem numa das paredes de dentro do meu cérebro e o que eu mais queria era meter as mãos pelos pés os dedos pela língua na carne escarlate que pinga o desejo tão longo tão longe tão logo tão confortável quanto um arrepio que atravessa a espinha
me vi naqueles tomates que se afundaram na gaveta da geladeira, e esmagaram-se um em cima do outro em meio à um fungo recém-nascido e se você ousasse encostar os dentes neles sentiria: que estou amarga. [e que acontecimento curioso que, enquanto relato minha sensação de ser-fruta-podre, os primeiros raios de sol em quatro dias tomem a liberdade de invadir minha cozinha. o frio tem sido tanto que me amarguro mais ainda] foi um daqueles processos tão lentos mas que quando finalmente acontecem, acontecem de uma só vez. um dia acordei e em meu ritual de gastar pelo menos uma hora deitada na cama antes de encarar o outro lado da porta realizei, estou amargurada. e foi uma percepção tão repentina. e não parei de pensar nessa palavra desde então. e no peso de seu significado. e na ironia de como ela se aplica bem à mim, que sempre corri dos sentimentos feios. e no porquê eu a abracei com tanta vontade. não sei qual o limite entre uma aceitação saudável - do ti