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el/

olho-te e sinto fome, som grave que ecoa pelas entranhas e seca a garganta, que atordoa o caminhar na rua ao pendurar sua imagem numa das paredes de dentro do meu cérebro e o que eu mais queria era meter as mãos pelos pés os dedos pela língua na carne escarlate que pinga o desejo tão longo tão longe tão logo tão confortável quanto um arrepio que atravessa a espinha 
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amargo/amargura/amargurada/amargor

me vi naqueles tomates que se afundaram na gaveta da geladeira, e esmagaram-se um em cima do outro em meio à um fungo recém-nascido e se você ousasse encostar os dentes neles sentiria: que estou amarga. [e que acontecimento curioso que, enquanto relato minha sensação de ser-fruta-podre, os primeiros raios de sol em quatro dias tomem a liberdade de invadir minha cozinha. o frio tem sido tanto que me amarguro mais ainda] foi um daqueles processos tão lentos mas que quando finalmente acontecem, acontecem de uma só vez. um dia acordei e em meu ritual de gastar pelo menos uma hora deitada na cama antes de encarar o outro lado da porta realizei, estou amargurada. e foi uma percepção tão repentina. e não parei de pensar nessa palavra desde então. e no peso de seu significado. e na ironia de como ela se aplica bem à mim, que sempre corri dos sentimentos feios. e no porquê eu a abracei com tanta vontade. não sei qual o limite entre uma aceitação saudável - do ti

por um segundo olhei em volta no meu quarto e percebi o quanto gosto daqui

uma das paredes do meu quarto eu pintei de laranja laranja-puxando-pro-pêssego, acho que era nêspera o nome da tinta segundo o livreto da loja; em volta do vidro da minha janela, que dá pra rua - pequena, a numeração vai somente até o 700,  onde em sua extensão  entre as casas e as árvores e as sombras do postes moram quatro gatos pretos que eu achei que eram dois,  mas eles miaram aqui embaixo esses dias e eu pude conhecê-los propriamente - pintei de azul piscina, aquele que dá mesmo vontade de tirar toda a roupa e mergulhar sem pensar duas vezes. preferia minha estante antiga. ela tinha menos prateleiras, é verdade,  mas elas eram mais altas, e cabiam todos os meus livros em pé. detesto ter que arrumá-los deitados. detesto também como, com a mudança, tive que tirá-los e guardá-los e reorganizá-los milhares de vezes, e só assim para eu me lembrar de quantos deles eu ainda nem li. não tem um dia que eu não lembre da minha escrivaninha. cad
lembro-me que mês passado escrevi sobre uma manhã ensolarada  na qual você dormia, lindo e sereno, enrolado nesses mesmos cobertores enquanto o sol entrava forte pela janela sinto falta da escrivaninha de madeira que sentava-se exatamente aonde a luz batia; falei sobre o quanto aquilo a luz do sol você o café  quase frio faziam eu me sentir viva. como eu tinha finalmente FINALMENTE entendido. essa manhã fechei a janela quando o sol nasceu.

HÁ UM MÊS ATRÁS EU ME SENTIA VIVA E AGORA NÃO SINTO MAIS

sinto uma tremedeira típica e venho tentando mudar os adjetivos para que não fique claro que só digo mais da mesma coisa estou na cama e estou cansada preciso dizer para que imagine o cenário cama de casal, cobertor felpudo e preto, lençol branco meramente manchado, luz amarelada refletindo no espelho onde se juntam pequenos insetos por conta de seu calor tudo que penso agora passa correndo pela minha cabeça estou tão exausta que não consigo me concentrar mais posso referir-me a esse sentimento como pré-sono, acredito  aqueles minutos em que antes da consciência se esvair por completo enquanto ela aos poucos vai mas ainda fica [não] acontece, não durmo me encontro por horas nesse limbo de pensamentos onde não há distinção ou consciência suficiente para compreender o que é importante e o que é ilusão  mas me deito com a luz acesa e os olhos abertos [senão, sinto tanto medo] por horas penso tanto em você e "você"  quatro letr
eu sinto falta. sou feita de carne e osso e unhas e uma pitada de desconexão com a realidade que não me permite perceber nada até que caia no meu colo ou bata na minha cara - ou qualquer outra metáfora que explique o contrário e a consequência de se empurrar com a barriga. dói e sangra tanto em mim quanto pra vocês. eu agarro minha culpa; a olho de todos os ângulos, seguro-a de cabeça para baixo. reescrevo os diálogos e marco no calendário e sei, sei que passou tempo demais. além do que deveria. muito para agora voltar atrás e retomar os dias do início. a consciência de que eu teria feito tudo diferente somente me consome e a incerteza de minha própria capacidade de me levar a sério me deixa isto: não tenho o que oferecer. nada. chego de mãos abanando e é porque meu arrependimento é o que me resta e não pode ser vendido em troca de perdão. mas sou feita de carne e osso e unhas e meus pés agora tocam o chão. espero que seja um começo.

ELEGIA

me banho numa angústia satisfatória. uma solidão quase que fingida, um tapinha nas minhas próprias costas. sozinha, olho ao redor e me sinto parte de uma atração. sei que não sou um em um milhão e assistir-me por outros olhos, num momento em que só eu existo, é um alívio. me embalo numa trilha sonora para cada momento de desespero e me afasto da realidade maçante; agir como se tudo não passasse de um terceiro ato; nada é inesperado; nada machuca de verdade.